O que é e como tratar a ansiedade canina?

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Agitação excessiva, atitudes destrutivas (morder móveis e objetos), chorar e latir sem parar, morder ou lamber a pata ou o rabo todo o tempo, além de xixi em lugar errado quando você não está em casa, são alguns exemplos de comportamentos que indicam que o pet não está bem.

Com a correria do dia a dia, muitos pais de pets têm cada vez menos tempo para dedicar exclusivamente a eles e isso tem gerado um problema já conhecido, mas ainda pouco tratado: a ansiedade em cães.

Trata-se de uma enfermidade conhecida como Síndrome de Ansiedade de Separação (SAS) e ocorre principalmente quando os pets manifestam um conjunto de comportamentos quando são afastados de seus pais, de outras figuras de apego ou quando ficam sozinhos em casa.

É importante entender que o cachorro pode sofrer de ansiedade assim como você, por uma insegurança em ficar sozinho. Por natureza, os cães são seres gregários, que vivem em bandos. A matilha é a única forma de sobrevivência para eles, seja para se alimentar, se proteger de predadores e cuidar das crias. Por isso, este instinto ainda está presente em muitos peludos e pode ficar mais evidente em algumas situações.

 

Sinais de um cão ansioso

Entre os sinais mais comuns da ansiedade de separação em cães estão:

Vocalização excessiva: o cão chora insistentemente e sem parar. Basta você colocar o pé para fora de casa e o pet começa a chorar, latir e raspar a porta? Muitas vezes, somente descobrimos que o peludo costuma fazer isso por uma reclamação do vizinho. O excesso de latido (e, também, de uivos e choros) é a forma que o pet tem de demonstrar sua insatisfação em ficar sozinho.

Destruição: caminha destruída, jornalzinho ou tapetinho higiênico rasgado, almofada furada, um sapato comido, um sofá mordido. Quem nunca se deparou com esta situação ao chegar em casa? Este comportamento é bem comum em cães ansiosos que ficam entediados quando o dono está ausente.

Lambedura: quando o pet está saudável, mas insiste em lamber constantemente alguma parte do corpo, como as patas ou rabo, por exemplo, pode estar relacionado à ansiedade. Este comportamento, quando realizado de forma recorrente, pode indicar duas coisas: que o pet tem uma coceira na região (por alergia ou outro problema de pele, por exemplo) ou, novamente, que ele está muito ansioso. O problema é que, a longo prazo, essa lambedura pode causar lesões e infecções na pele. Por isso, vale a pena ficar bem atento a este comportamento.

Mudança de apetite: comer muito de uma vez só ou fazer “greve de fome”. Cada cachorro reage de uma forma quando algo não vai bem. Assim como nós, a comida pode ser uma “válvula de escape” em situações de estresse. Comer em excesso ou perder totalmente o apetite pode ser um indício de ansiedade no pet. Por isso é sempre importante acompanhar como está a alimentação do peludo.

Necessidades no lugar errado: o peludo insiste em “errar” o tapetinho, jornal ou quintal quando você sai? Sabemos que isso incomoda muitos donos, principalmente quando o cachorro resolve deixar um presentinho na porta do quarto, no tapete da sala ou até em algum objeto que tenha o cheiro do tutor. Mesmo cães adultos e já adestrados que sofrem de ansiedade canina, podem desenvolver o comportamento.

Cão perseguidor: são agitados e muito ativos, seguem o proprietário por todo lado, pulam em cima dele e correm sem parar.

 

Quais são os gatilhos da ansiedade?

Algumas pesquisas demonstram que a maioria dos proprietários de pets sentem que o cão é um membro da família. O lugar que o cão ocupava há tempos se modificou: antes eram tratados como cão de guarda – que se alimentavam dos restos da casa – agora, são parte da família – possuem a própria cama e comida, têm hora semanal no pet shop para banho e tosa, além de serem o filho, o irmão ou o neto de alguém.

Isso é muito positivo em alguns aspectos. Por outro lado, a humanização dos animais pode trazer consequências para eles, quando se afastam dos seus instintos.

Os cães são descendentes dos lobos e pertencem à família dos canídeos. Por isso, têm o hábito de caçar, cortar e comer as suas presas. Mesmo domesticados, eles mantêm alguns destes hábitos. Eles veem o dono e demais membros da família como sua matilha, da qual não devem se separar. Sozinhos, se sentem ameaçados e desprotegidos. Enquanto seu cachorro destruir o objeto da casa pode parecer uma provocação a você por ter o deixado sozinho, mas, para ele, é apenas a força do “velho hábito” de caça.

Algumas consequências do excesso de humanização são: transtornos de alimentação; transtornos de comportamento; crises de ansiedade; estresse; agressividade; latidos excessivos; mudança de conduta, automutilação; dificuldades de socialização.

Assim, a ansiedade de separação em cães é muito comum. Independente se o cão recebe muita ou pouca atenção do dono. Trata-se de uma dificuldade do peludo – que não está preparado para esperar pela atenção do tutor. Ele fica “frustrado” quando não recebe a atenção devida, seja a falta de um carinho, uma brincadeira ou um passeio. Esta decepção recorrente pode ser o gatilho para desenvolver uma série de comportamentos inadequados.

Um cachorro que passa mais de quatro horas sozinho por dia já é um candidato a sofrer de ansiedade de separação. Isso porque, muitos peludos não sabem lidar com situações em que são deixados em casa ou que recebem pouca atenção dos donos e da família. Não é à toa que os momentos em que os cães ficam sozinhos estão entre os mais comumente associados ao hábito de destruição.

A ociosidade e a falta de atividades também é um dos principais motivos de um cão destruidor. Sem passeio e brincadeiras para gastar o tempo, o cão vai procurar algo para manter-se ocupado. E isso pode gerar problemas de comportamento.

Cães mais ansiosos

Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Helsinque, na Finlândia, avaliou o comportamento de 200 cães e 14 raças distintas a partir de um questionário respondido por seus tutores. Divulgada na revista Scientific Reports, os resultados indicaram que 72,5% de todos os cachorros apresentam pelo menos um comportamento relacionado à ansiedade.

32% dos cães têm medo e são sensíveis a ruídos (sons associados aos fogos de artifício);

17% apresentam medo de outros cães;

15% se sentem inseguros quando estão com estranhos;

11% temem situações desconhecidas.

Os animais mais velhos apresentaram maior sensibilidade ao ruído como medo de trovões e fogos de artifício. Mas por que isso acontece? Os cães têm sentidos muito mais apurados do que os nossos: enxergam, escutam e sentem odores de formas diferentes de nós. Já os cães mais novos apresentam mais frequentemente comportamentos típicos de ansiedade de separação como urinar no chão ou destruir móveis.

 

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é feito através do histórico do cão. O tratamento da ansiedade canina pode ser feito associando terapia comportamental, medicamentosa e alternativa. Quando um cachorro ou um gato apresenta algum distúrbio comportamental, seus tutores recorrem a um profissional do comportamento. De acordo com a comportamentalista animal Luiza Cervenka, a terapia comportamental tem por base três pilares:

1) parte física;

2) modulação comportamental;

3) manejo ambiental.

Segundo Luiza, no primeiro pilar, a parte física é de extrema importância. Por isso, todo animal deve ser avaliado por um médico veterinário, independentemente de qual seja a queixa. Sem um tratamento adequado, o resultado da terapia comportamental pode não ser tão efetivo. Também se encontra neste pilar a possibilidade de utilizar psicofármacos, feromônios e fitoterápicos, para auxiliar na agilidade de respostas dos outros dois pilares.

“Se um animal está extremamente estressado, sua capacidade de aprendizado reduz, dificultando a aceitação de uma nova rotina ou mesmo um treino proposto pelo comportamentalista”, explica a especialista. Assim, antes de que algo seja ensinado ou adicionado à vida do animal, é importante tirá-lo da angústia, medo ou estresse.

Além de retirar os fatores estressores, como barulhos ou situações específicas, podemos adicionar ao tratamento a parte física, com fitoterápicos. “Isso não significa que a modulação comportamental, através do ensinamento de novos comportamentos, ou o manejo ambiental, através de uma modificação do ambiente no qual o animal esteja inserido, não são suficientes. Mas, a depender do caso, se faz necessário dar um auxílio ao animal, para que este responda mais rápido aos pilares dois e três”, afirma.

O tratamento inclui ensinar ao cão a tolerar as ausências da família e corrigir o comportamento considerado inadequado como atitudes destrutivas (morder móveis e objetos), chorar e latir sem parar, morder ou lamber a pata ou o rabo todo o tempo, além de xixi em lugar errado.

Em alguns casos, uma ansiedade pré-partida do tutor pode fazer parte da rotina. Nesses casos, o importante é identificar quais são os sinais que disparam esse gatilho no pet e eliminá-los da rotina a fim de evitar a ansiedade e excitação do cachorro nesses momentos.

O enriquecimento ambiental também é muito importante. A seguir, estão algumas dicas de como entreter o seu pet:

 

1. Ofereça brinquedos

Existem brinquedos muito interessantes no mercado, mas alguns também podem ser improvisados em casa como oferecer uma garrafa pet com petiscos dentro para que o cão tenha que tirá-los para comer, dar um coco verde para que ele possa destruir e esconder petiscos pelos locais da casa aonde o pet pode ir. Os brinquedos de rechear são bem interativos, pois podem guardar biscoitos e petiscos que os cães devem se esforçar para tentar tirar. Também é válido oferecer bichinhos de pelúcia, de corda ou aqueles que fazem barulho.

 

2. Modifique o ambiente

O mais importante é oferecer diferentes tipos de brinquedos com texturas, cheiros e barulhos variados. Cada animal terá preferência por um tipo, por isso, encontre o tipo que trará maior diversão para o seu peludo. Outro ponto é que os pets terão maior atração por objetos novos. Se você deixar todos os objetos sempre espalhados no ambiente em que o cão vive, ele vai perder o interesse por ele. Então, faça sempre um rodízio dos brinquedos, colocando, a cada dia, um diferente. Isso ajuda a deixar o ambiente mais interessante.

 

3. Ofereça recompensas

Uma forma divertida de estimular o pet é usar brinquedos dispensadores de alimentos, usando parte da refeição diária. Essa dica é da etóloga e especialista em comportamento de cães e gatos Denise Falck. “Isso estimula o seu instinto natural, caçar, se mover para comer. E o estímulo de cair a comida gostosa vai incentivar o pet. Também pode usar outros alimentos, frutas e legumes, com a orientação do veterinário”.

Assim, esperamos que você possa ajudar seu pet a se autorregular.

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